Inteiros despedaçados e desordenados...

O despertar da noite...

No quarto um “click”.
Num segundo, o “TOC”.
Hoje é o primeiro dia.
A noite mais longa.
Meus ouvidos estão a flor da pele.
Ouço ruídos que saem das paredes.
Os olhos, estatelados.
Procuram aquilo que não vejo.
E o que pulsa no peito, agora bombardeia,

e me afogo em minha respiração.
É o despertar da noite que nunca amanhece...




Suspiro



Estava eu imersa em pensamentos, sentada e acompanhada de um copo apoiado num velho piano e nele, um líquido cristalino. Remoia velhas lembranças e refletia sobre convicções formadas com o passar dos anos.

Uma sonolência e toneladas de quilos tomavam conta do meu corpo e cérebro parecia entrar numa onda de aspirais intermináveis.  Os livros que, minutos atrás, estavam depositados, de forma organizada, e catalogados na instante de madeira maciça, caíram um a um.  Imaginei que seria meu último suspiro.

E o que vem em mente neste momento único e terminal?

Nos minutos iniciais, pensei que seria bom, se como nas nossas primeiras lições escolares, pudéssemos ter uma borracha da qual apagaríamos nossos vacilos e falhas.  Há aqueles que crêem na oração para diminuir o pecado e no acerto de contas no Dia do Juízo Final e outros que acreditam que as causas feitas pelos pensamentos, palavras e ações são registradas no Universo, sendo possível amenizar seus efeitos através do canto de um mantra e na propagação da felicidade das pessoas. Confesso que sou adepta do segundo grupo.

Já que essa borracha não existe, que tal arrancar algumas páginas de nossa história? Sabe aqueles capítulos dos quais preferimos pular a leitura? Pois é, mas as folhas se desordenariam, surgiriam lacunas, o caos estabelecido e o final, sem sentido.  

Os segredos guardados na adolescência poderiam ser escritos com aquela canetinha mágica branca que fica transparente, sabem? Mas sempre tem um engraçadinho que passa a canetinha colorida e ainda espalha por aí a sua descoberta.

Mas um dia temos que amadurecer e cair das nuvens, alguns sonhos se dissipam com as obrigações e a luta pela sobrevivência.

Será possível comandar o tempo? Gostaria que o relógio tivesse mais horas, muito mais do que antes.  Para que eu ainda tivesse tempo...


Então o despertador toca. É hora do primeiro suspiro do dia que acabou de chegar.





O avião desgovernado



Foi trágico ver aquele avião desgovernado tentar fazer um pouso de emergência no grande pátio da fábrica de gelo. Movimentava-se feito um inseto. De repente, o piloto herói sai de dentro da cabine, se dirige para a parte de cima e de ponta cabeça tenta salvar a nave e as pessoas que nela estavam. Ufa! E não é que ele conseguiu?!  Arriscou sua própria vida, se esborrachou no chão, mas não morreu.  Espera! O piloto sou eu??? Trrriiiiiim!!! E o despertador toca!
Ele insiste em enfrentar batalhas sem fim contra mim. Por um lado, tenho ânsia de desacelerar os ponteiros para ter mais chance de seguir e correr, na busca insaciável do sucesso, que insiste em parecer inalcançável, ou recuperar o que se perdeu. 
E no sentido anti horário, hoje me olho no espelho e me vejo como ontem, e antes de ontem. Ainda posso ver desenhos nas nuvens feitas de algodão...
Embora pareça incoerente e rapidamente (pois não há mais tempo a perder), finalizo meus pensamentos citando entrelinhas o nome de um filme dos anos 80, para concluir que, embora eu não seja tão jovem, ainda sou  jovem demais para morrer.



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